segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CIÊNCIA OU ENGÔDO?



Apresentado de forma séria, humorística e poética, este texto foi escrito pelo Dr. Christian Tal Schaller, fundador do Institut de Santé Globale, Taulignan, França

  
Os Peritos

Vamos boa gente, dêem-nos seu dinheiro! Somos os peritos! Podem confiar em nós, pois somos especialistas em todas as áreas. Desde a medicina até a ciência nuclear, somos verdadeiros reis, bem mais poderosos que os chefes de estado, pois vocês nem sabem os nossos nomes!

Vocês terão saúde a partir do momento em que acabamos de matar todos os vírus, de bombardear todos os tumores, de ajustar todos seus órgãos. De nossos laboratórios gigantes sairá a felicidade ... sejam pacientes. Algumas verbas adicionais e apagaremos todas as vossas doenças com a borracha de nossos medicamentos. Obedeçam a nossa sabedoria, acreditem naquilo que dizemos, somos infalíveis, a deusa Ciência está conosco!.

Sim, a doença acontece por acaso, é um inimigo malvado de quem vocês são as vítimas impotentes. Mas, acalmamos os temores e as dores com pílulas mágicas, oriundas de estudos científicos realizados com a maior seriedade.

Não esqueçam que todos os anos imolamos milhões de animais no altar da ciência. Prometemos ao povo a felicidade para o dia de amanhã, a pílula contra o câncer, a vacina contra a Aids. Como prêmio, lhes oferecemos o coração de plástico e o pulmão de celulose. Nosso objetivo, a médio prazo, é o homem artificial, totalmente lavável, descartável após 100.000 quilômetros e reembolsado pelos planos de saúde.

Temos certeza daquilo que dizemos e confiança absoluta em nossa doutrina. Eliminaremos todos os vossos males sem que tenham de mudar seus hábitos. Prometemos não ameaçar nunca seus prazeres, nem lhes pedir qualquer esforço. Deixaremos vocês em condições de viver como antes: fumando, bebendo e comendo de tudo. Não tentem se rebelar, nos provocar; temos os meios colocá-los na linha se ousarem contestar nosso poder.

Os políticos estão em nossas mãos; eles participam dos conselhos de administração da indústria do bem-estar artificial. Monopolizamos a pesquisa científica. A mídia levamos no cabresto; pobre do jornalista que ousar nos atacar: logo irá para o olho da rua. Combatemos as doenças, somos os cavaleiros da química, nossa cruzada é nobre, queremos o bem de todos. Admirem-nos e fechem seus ouvidos às palavras perniciosas de mentes doentias e pouco sérias que afirmam que a química polui o organismo, mata as florestas, destrói a terra!

São loucos esses sonhadores que pensam que com um pouco de informação, algumas medidas educativas cada um pode aprender a cuidar de sua saúde, livrar-se das doenças e cantar, dançar e brincar. Esses mercadores de falsas esperanças até alegam que algumas pessoas sobrevivem à Aids. É demais! Como ousam! Nós sabemos e afirmamos que todos os doentes vão morrer enquanto não tivermos encontrado o medicamento devidamente patenteado que poderá salvá-los.

Não dêem ouvidos a esses charlatães, esses marginais, esses inúteis, esses excêntricos, totalmente loucos, que pretendem que a doença é conseqüência do modo de vida. É ridículo! Querem responsabilizá-lo pelas dores e pelos tormentos que sente. Querem alterar seus hábitos e obrigá-lo a comer sementes germinadas! Esses anarquistas, esses desmancha-prazeres, querem mostrar-lhes como se tornar perito na própria felicidade, na própria saúde. Não lhes dêem ouvidos, por piedade, pois se vocês recuperem o poder que nos deram, o que será de nós, os donos da ciência?

Sejam sensatos, não façam com que percamos o emprego. Obedeçam-nos, por favor. Deixem-nos continuar a dirigir tudo em nome do progresso, em nome do lucro. Continuem a viver adormecidos, embalados por papai aperitivo, por mamãe medicamento e pela chupeta chamada cigarro. Nós lhes suplicamos: não acordem!


Reproduzimos este texto, sem dúvida irônico e humorístico, porque descreve uma realidade evidente e porque emana do punho de um médico, cuja consciência profissional, alertada por uma situação mais do que anormal e chocante, se insurge contra o engodo de que "a boa gente" é vítima.
Engodo que se manifesta de muitas maneiras porque a mentira impera em nossas sociedades desprovidas de moral, de retidão e de lealdade. O dinheiro consegue fazer passar por bom tudo aquilo que é ruim e por ruim tudo aquilo que é bom, destruindo a consciência e corrompendo a mente.
O artigo do Dr Schaller é extremamente claro e em um tom ligeiramente cáustico traduz bem a mentalidade que predomina no meio científico-farmacêutico. Uma mentalidade mais voltada para o mercantilismo e o lucro do que para a preocupação com a saúde pública. Esse verdadeiro charlatanismo, além de tudo, acusa aqueles que permaneceram fiéis ao Juramento de Hipócrates de serem charlatães (impostores). Como afirmou o escritor humanista André Gide: "Em um mundo em que todos trapaceiam, é o homem honesto que faz figura de charlatão".
É preciso que nosso mundo esteja em profunda escuridão espiritual para que o homem se deixe enganar e manipular dessa forma. É verdade, que muitas coisas o distraem e corrompem a ponto de não ter tempo para refletir. E a confiante credulidade que ele deposita naqueles que o instruem e o dirigem, despojando-o de qualquer bom senso, faz com que ele aceite tudo que lhe dizem sem distinguir o verdadeiro do falso.
É grave que o "civilizado" moderno se apega muito a seus hábitos, mesmo quando admite, confusamente, que são prejudiciais para a saúde. Ele gosta daquilo que o prejudica mesmo porque é incentivado por uma publicidade hipócrita e lancinante, pelo sabor agradável do veneno que lhe é oferecido.
Adormecido por todas essas promessas soporíficas que lhe fazem os eleitos e os cientistas, ele tem dificuldade para acordar apesar de todos as ocorrências tumultuosas e catastróficas que abalam o planeta. Será preciso que o desmoronamento total do sistema o desperte de sua letargia. Podemos até dizer: para libertá-lo do feitiço que o paralisa. Será somente então que os olhos se abrirão, os ouvidos se desobstruirão e os corações compreenderão.

Fonte: Revista da Lega Svizzera contro la Vivisezione, nº 6


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